Dia Nacional da Consciência Negra: expressões racistas para banir do vocabulário
Infelizmente, ainda hoje nos deparamos com diversas expressões racistas: “Criado-mudo”, “A coisa está preta”, “Não sou tuas negas”, já ouviram? Com certeza algumas dessas expressões já estiveram presentes no seu dia a dia. Este tipo de vocabulário é classificado como “racismo sutil”, pois é incorporado no cotidiano de forma branda, e acaba passando despercebido.
É importante debater sobre esse tema essencial para que possamos contribuir com a minimização de práticas racistas e, quem sabe, extinguir este comportamento da nossa cultura.
E quem explica melhor os significados e formas de substituir essas expressões é Larissa Kovelis, designer de produto da Caiena. Essa é uma das iniciativas realizadas pelo Comitê de Diversidade da Caiena sobre o Dia Nacional da Consciência Negra.
Aqui, Larissa lista 20 das expressões racistas que devem ser repensadas pela sociedade. Siga com a leitura e aprenda mais sobre isso!
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Racismo sutil: por que essas expressões não devem ser ditas e como substituir
Neste mês de novembro, em que celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra, temos como objetivo proporcionar o enfrentamento ao preconceito, à desigualdade e à violência contra as pessoas pretas, trazendo reflexões e maneiras de moldar o vocabulário do nosso cotidiano.
Muitas vezes percebemos que a maioria das pessoas usam expressões racistas de forma natural porque não têm conhecimento histórico sobre tal tema. Em sua maioria, este vocabulário é exteriorizado sem que a pessoa perceba que aquela expressão traz consigo um passado carregado de muita dor e sofrimento das pessoas pretas. E o fato dessas expressões ainda serem usadas mostra o quanto o problema segue presente em nossos costumes sociais.
Aqui estão algumas expressões e as explicações de suas origens, baseadas em conteúdos compartilhados por:
SEDH (Secretaria de Estado de Direitos Humanos) do Governo do Estado do Espírito Santo
Cartilha “Vamos Repensar Nosso Vocabulário” - Prefeitura de Pindamonhangaba
Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná
Confira expressões racistas, seus significados e possíveis substituições:
- “Meia tigela”: essa expressão esta associada aos negros que trabalhavam à força nas minas de ouro. Isso porque eles nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”, e então recebiam como punição apenas metade da tigela de comida. Hoje a expressão é atribuída a algo incompleto, sem valor ou medíocre.
Substitua por: “Isso não ficou tão bom”, “Está incompleto”, “Não atende à expectativa”.
- “Mulata”: a expressão surgiu na língua espanhola para falar sobre o filhote macho de cruzamentos de cavalo com jumenta, bem como de jumento com égua. Essa expressão reforça a opinião sobre a objetificação do corpo da mulher negra. Hoje, também remete à ideia de sensualidade.
Substitua por: não utilizar esta expressão.
- “Cor do pecado”: para muitas pessoas, isso pode até ser um elogio, pois saiba que esta também é uma expressão associada ao imaginário da pessoa negra sensualizada. E ainda reforça a ideia de que os negros seriam pecadores, portanto, torna-se negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.
Substitua por: não utilizar esta expressão.
- “Não sou tuas negas”: aqui, a expressão traz a impressão de que a mulher negra é alguém com quem se pode fazer tudo e que não detém direito sobre o seu corpo. Ela é baseada nas experiências das escravas, que eram tratadas como “posse” dos homens brancos e também serviam para “atender” à satisfação sexual dos senhores. Por isso, a expressão carrega também o machismo consigo.
Substitua por: “Peço respeito”, “Você está ultrapassando o limite comigo”.
- “Denegrir”: este é um sinônimo de “difamar”, porém, seu significado seria o de “tornar algo negro”, implicando o sentido de maldade e ofensa. Desta forma, o termo diz que se está “manchando” a imagem de alguém, tornando-a negra, como se a cor fosse algo negativo.
Substitua por: difamar, desonrar, caluniar, desabonar, desacreditar, injuriar, rebaixar.
- “A coisa tá preta”: esta fala associa o termo “preto” a situações desconfortáveis, desagradáveis, difíceis ou perigosas.
Substitua por: “A situação está difícil”, “Estou correndo perigo”, “Estou com dificuldades”.
- “Serviço de preto”: aqui, a palavra “preto” também aparece como significado de algo ruim, representando uma tarefa mal feita ou errada. Ou seja, essa é uma associação racista pois menospreza o trabalho que seria realizado pela pessoa negra, inferiorizando-a.
Substitua por: “Serviço mal feito”.
- “Mercado negro, magia negra, lista negra ou ovelha negra”: em todos esses casos, bem como em vários outros não apresentados aqui, a palavra “negro” é usada como representação de algo pejorativo, prejudicial, ilegal. E ainda remete aos tempos em que o negro era tratado como uma mercadoria.
Substitua por: “Comércio ilegal”, “Comércio clandestino”, “Magia maléfica”, “ “lista de excluídos”, “fora dos padrões”.
- “Inveja branca”: nessa expressão, que também associa o negro ao comportamento negativo, suaviza-se a ideia de que a inveja é algo menos ruim quando está associada à cor branca, que seria “boa”.
Substitua por: apenas usar a palavra inveja.
- “Amanhã é dia de branco”: essa afirmação teria várias origens. Uma delas é que teria sido criada em alusão ao uniforme da marinha. Em outra justificativa, conta-se que ela surgiu devido a nota de mil cruzeiros, que no passado trazia em sua estampa a figura do Barão do Rio Branco, que usava trajes desta cor. Então, seu significado remete ao ato de trabalhar, ou de ganhar dinheiro. Mas também é uma frase associada ao objetivo de dizer que pessoas negras seriam inferiores, por não trabalharem ou porque teriam condições sociais mais baixas.
Substitua por: “Dia útil”, “Dia de trabalho”.
- “Criado-mudo”: no passado, os escravos não podiam fazer barulho quando estavam atendendo aos seus senhores. Então, daí surgiu o nome do móvel, em alusão aos escravos que passavam horas segurando itens diversos em silêncio nos ambientes.
Substitua por: “Mesa de cabeceira”.
- “Doméstica”: as pessoas negras eram vistas como animais que deveriam ser “domesticados”. Daí surgiu o termo doméstica, pois as escravas que trabalhavam dentro das casas tinham comportamentos “domados”.
Substitua por: “Funcionária”.
- “Nasceu com um pé na cozinha”: a expressão faz associação com as origens de pessoas negras, que têm o histórico da escravidão. Neste caso, remete ao fato de que as escravas podiam ficar dentro das casas grandes na parte da cozinha, ambiente que muitas vezes também servia como seus dormitórios.
Substitua por: não utilizar esta expressão.
- “Cabelo ruim ou cabelo duro”: não devem ser usadas pois induzem ao pensamento de que as características dos cabelos afro são inferiores às dos brancos, que em sua maioria têm cabelos lisos.
Substitua por: “Cabelo ondulado”, “Cabelo cacheado”, “Cabelo crespo”.
- “Feito nas coxas”: aqui temos outro exemplo de expressão popular que surgiu na época da escravidão, quando as telhas das casas eram feitas de argila e moldadas nas coxas de escravos.
Substitua por: “Mal feito”.
- “Samba do crioulo doido”: este é um título de um samba que satirizava o ensino da história do Brasil nas escolas nos tempos da ditadura. Porém, a expressão tornou-se popular no país para contar histórias de confusões e outras anedotas. Ela reafirma um estereótipo e a discriminação às pessoas negras.
Substitua por: “Confusão”, “Balbúrdia”.
- “Crioulo, Negão”: era assim que as pessoas descendentes de escravos eram chamadas na sociedade. Portanto, o termo é considerado pejorativo e discriminador e não deve ser usado para se referir a um indivíduo negro.
Substitua por: “Homem preto”.
- “Tem caroço nesse angu”: essa expressão remete à forma como a pessoa responsável por servir as refeições aos escravos conseguia esconder carnes, torresmos ou outros alimentos debaixo do angu de fubá, ou seja, criando uma refeição mais completa.
Substitua por: “Tem algo errado nesta situação”, “Algo excepcional está acontecendo”.
- “Nhaca”: essa expressão é usada quando as pessoas se referem ao mal cheiro ou forte odor, desde o Brasil Colônia. Ela teria surgido da palavra Inhaca, nome de uma Ilha de Maputo, em Moçambique, onde vivem até hoje os povos Nhacas, um povo Ban. Então, associa os odores ao povo negro, querendo dizer que teriam mal cheiro.
Substitua por: não utilizar esta expressão.
- “Preto de alma branca”: aqui, sugere-se um elogio ao tentar falar de uma pessoa preta fazendo referência à dignidade dela como algo pertencente apenas às pessoas brancas.
Substitua por: não utilizar esta expressão.
Conclusão
Dentre estas expressões citadas, ainda existem outras que podem, de certa forma, agredir alguém. Agora que já sabemos, que tal trabalharmos o nosso vocabulário e fazer do mundo um lugar de paz e sem preconceitos?
Com estas informações, podemos conscientizar aquelas pessoas que ainda não sabem. Cada um fazendo a sua parte, com certeza andaremos em harmonia.
Essa é uma das iniciativas realizadas pelo Comitê de Diversidade da Caiena sobre o Dia da Consciência Negra. Seguimos produzindo conteúdos para o público interno e externo que visam promover a reflexão e o diálogo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Conheça mais sobre o Comitê de Diversidade da Caiena aqui!